Agorafobia (entrevista)
O que vem a ser a Agorafobia? A agorafobia é um medo que a pessoa sente em locais ou situações das quais seria difícil ou embaraçoso escapar ou mesmo receber socorro se ela passar mal. Os lugares específicos mais freqüentemente atingidos pela agorafobia são os túneis, passarelas, pontes, avenidas largas ou rodovias; pode se manifestar pelo medo de multidões como nos shopping centers, restaurantes, filas, cinemas, teatros, elevadores. O agorafóbico não teme as situações, mas tem medo de sentir sensações provenientes da crise. O medo de ter medo é considerado a característica fundamental da agorafobia. O Agorafóbico, não vai se locomover até o local, antecipando as sensações de passar mal. Conseqüentemente isso pode provocar um isolamento, fazendo com que a pessoa se sinta bem somente em casa.
Como uma pessoa pode desenvolver uma fobia? Podemos pensar que a fobia é uma defesa que a mente da pessoa cria numa tentativa de controlar o medo de morrer. Quando vem uma crise, isto se torna insuportável, o medo da morte se instala e a mente cria fobias: aqui tem perigo, ali não tem perigo. Como por exemplo, se eu fico em casa, eu estou segura; se estou no meio de multidões eu corro sérios riscos: como vou escapar no meio daquela gente toda se eu passar mal? A mente passa assim a “fabricar” espaços no universo que dão a ela uma sensação de pseudo- segurança e a evitar aqueles que ela “fabrica” como sendo perigosos. Diante de uma situação de ameaça, ela entra em crise, e estas se manifestam pelas ansiedades decorrentes daquelas situações que vivencia como ameaçadora. – Ansiedade é semelhante a uma sensação de nervosismo, a respiração fica mais difícil, sente taquicardia, uma sensação de sufocamento, sudorese, dores e tremores, náusea, vertigem, desconforto abdominal, desmaio, sensações de formigamento, e outros. Sensações estas que lhe dão uma idéia de que vai morrer ou enlouquecer. No caso da agorafobia, ela entra em pânico por medo de não ser socorrida caso venha a passar mal. Por isso a agorafobia é considerada uma fobia de evitação, porque a pessoa passa a evitar os locais ou situações que se sente ameaçada, imaginando que vai passar mal.
Uma fobia também pode se desenvolver como uma reação a um estresse ou a uma situação difícil cuja solução é igualmente difícil seja de natureza profissional, afetiva, financeira, de saúde, etc. Vai depender da sensibilidade afetiva da pessoa, da visão que ela tem da realidade, vai depender também da imagem que a pessoa tem de si própria, incluindo a auto-estima e autoconfiança. Uma agorafobia pode existir em níveis variáveis? Como toda fobia, a intensidade dela pode variar de pessoa para pessoa. Para algumas pessoas, podem ser capazes de se expor às situações temidas, porém enfrentam essas experiências com considerável temor. Para outras, toda essa dificuldade muitas vezes é superada pela companhia de alguém de confiança. E tem ainda os casos mais graves onde a pessoa fica como que “refém” de seus medos e não sai de casa para nada, fica aprisionada.
Qual o tratamento para a agorafobia? O objetivo de uma intervenção em psicoterapia é trabalhar inicialmente as questões emocionais subjacentes à dificuldade que a pessoa apresenta. Se a pessoa foge, é sinal que tem um problema ali para ser conhecido. É como se ela não estivesse podendo enfrentar a realidade. Acabando por ficar numa posição infantil de dependência de alguém que a leve e que a acompanhe. A gente vai trabalhar em psicoterapia principalmente o seu medo de crescer, de se tornar adulto e enfrentar a realidade; pouco a pouco a sensação de autoconfiança vai se estabelecendo e o medo declina. Ela se sentindo mais confiante, vai criar a percepção de que o mundo é novamente seguro, previsível e sem perigo e vai perdendo o caráter ameaçador. O paciente começa a se sentir mais apto para enfrentar os conflitos do dia a dia, aumentar as habilidades de enfrentamento das situações. Concomitantemente utiliza-se na psicoterapia estratégias que levam a pessoa aprender a gerenciar suas crises, a modificar a relação com as sensações do corpo, e visam trabalhar as ansiedades decorrentes das situações da vida. O objetivo final de uma psicoterapia é ajudar a pessoa a desenvolver sua autonomia para que consiga ser a autora de sua própria história.
Esse sintoma está crescendo ou não? Por quê? Do ponto de vista clínico, é bem possível que os transtornos fóbicos predominem na atualidade, levando as pessoas a uma maior vulnerabilidade, desconfiando de tudo e de todos. É muito comum encontrarmos pessoas com fobias diversas. Considerando que o mundo está cada vez mais violento, mais perigoso e as expressivas mudanças da vida moderna, acabaram por levar as pessoas a uma maior exposição a situações de conflito e ansiedade, desestabilizando a vida emocional. Isto conduz a sentimentos de insegurança tais que o viver é sentido sempre como uma ameaça de perder a integridade física e medo de morrer.
Quando se pode considerar que a pessoa está portadora de agorafobia? Vai depender do grau de sofrimento que a pessoa fica acometida: da intensidade da fobia e da freqüência em que ocorre. Toda fobia é medida pelo prejuízo que acarreta na vida da pessoa. Se a fobia não interferir no modo de vida dela, não trazendo prejuízos para sua vida pessoal, profissional e social, ela acaba sendo bem tolerada e convive bem com isto. Se ela tiver claustrofobia, por exemplo, com um medo de elevador e a pessoa simplesmente evitar andar de elevadores, sem nenhum prejuízo na sua vida, ela pode conviver facilmente com esse impedimento. No entanto se o medo for de uma intensidade tal que o medo do elevador for progredindo para outras situações, pode chegar o momento que esta pessoa permanece “refém” de seu medo e não mais sai de casa. Esta pessoa tem grandes chances de desenvolver distúrbios psiquiátricos cada vez mais importantes.
Luzia Winandy