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Depressão Pós-Parto Paterna

Matéria para o portal www.luzia.psc.br

Depressão Pós-Parto Paterna

A chegada de um bebê representa uma transformação total no casal no sentido de que passa a existir, a partir daí, um terceiro. Todas as atenções e cuidados são agora dirigidos para este pequeno ser, fruto da relação amorosa. Isto em alguns casais pode gerar alguns conflitos inconscientes, por esta quebra de atenção e cuidados um com o outro. Muitos estudos são desenvolvidos sobre a Depressão pós-parto materna e das inúmeras conseqüências para o bebê do não tratamento. No entanto é muito importante estar atento também aos sentimentos paternos, que muitas vezes passam despercebidos pelos familiares e pela mulher. A tristeza paterna que segundo alguns estudos podem acometer até 20% dos pais pode ser a responsável por mudanças de comportamentos importantes e desagregadoras no homem se não forem dadas as devidas atenções. Ela pode se desenvolver de uma simples tristeza para uma depressão, tão profunda, que poderá conduzir o homem a trilhar um caminho árduo e penoso, como forma inconsciente de não entrar em contato com seus sentimentos mais profundos.

É natural que no inicio do nascimento do bebê, muitas coisas mudam na vida de um casal. Aquela tranqüilidade, noites de sono dormidas intensamente, saídas noturnas sem preocupação com horários, programas com amigo até altas horas, baladas, viagens etc. vai naturalmente sofrer uma transformação. Porque agora existe um bebê que precisa de cuidados, atenção e também de horários. Ou seja, o bebê acaba sendo um impedimento para muitas coisas prazerosas, e agora praticamente tudo gira em torno dele.

Alguns estudos mostram que essas mudanças na rotina do casal com um novo ritmo de vida, os ciúmes pelo sentimento de exclusão do homem da dupla mãe-filho, bem como a ansiedade sobre as expectativas de ser um bom provedor e o aumento das responsabilidades, são uma das grandes causas que podem ser o desencadeador da chamada “depressão pós-parto paterna” (DPP).

É muito importante ficar atento aos principais sintomas que podem denunciar uma depressão pós-parto no homem: - Tristeza aumentada - Maior Irritabilidade, agressividade e hostilidade - Falta de apetite - Pouca vontade de se relacionar com o bebê. - Desapego pelas atividades do dia-a-dia - Insônia - Diminuição ou perda da libido - Angústia - Em alguns casos pensamentos suicidas - Mudança no comportamento tais como: Evitar permanecer em casa adquirindo mais ocupações externas, extrapolando no tempo de trabalho e nos exercícios físicos e ainda procurando novas relações amorosas, podendo chegar ao abandono do lar.

A doença merece uma atenção especial da mulher e dos familiares, que por questões fisiológicas e culturais masculinas, muitos homens preferem se calar e ficar introspectivos em seus sentimentos e sofrimentos e muitas vezes só passam a ser percebidos na família com as mudanças e alterações do comportamento que são usados como fugas inconscientes destes conflitos.

Os estudos e pesquisas alertam para uma atuação preventiva das equipes multidisciplinares de saúde, principalmente os obstetras, pediatras, psicólogos e psiquiatras, podendo oferecer ao novo pai o suporte de que necessita para encarar as ocasionais ocorrências de depressão e inquietações, bem como das possíveis modificações comportamentais.

Se o pai perceber que alguns destes sintomas estão sendo recorrentes, não deixe de procurar ajuda profissional. Quanto antes for diagnosticado mais rapidamente será tratada, deixando menos seqüelas na dinâmica familiar que acaba ficando tão desestruturada. Quando tratados no inicio, uma psicoterapia evolui com muito mais facilidade. Um tratamento deve priorizar em trabalhar os pensamentos e sentimentos que ficam represados e encontrar qual é o núcleo dos conflitos que está conduzindo à depressão, investigando a razão ou a causa motivadora. Com isto ele deve reencontrar sua autoconfiança e um equilíbrio emocional.

Luzia Winandy

Muitos estudos e pesquisas vem sendo feitos sobre o tema em questão e gostaria de ressaltar o da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, bastante completo e vou anexar parte seu teor nesta página, para um melhor entendimento destes estudos:

- Rev. Bras. Ginecol. Obstet. vol.34 no.7 Rio de Janeiro July 2012 Alerta sobre a depressão pós-parto paterna Olga Garcia FalcetoI; Carmen Luisa FernandesII; Suzi Roseli KerberIII IDepartamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil IIGrupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre (RS), Brasil IIIPsiquiatra da Infância e Adolescência – Porto Alegre (RS), Brasil

“Ao contrário da grande quantidade de estudos publicados sobre os fatores ligados depressão pós-parto materna (DPPM), pouco se sabe sobre o desenvolvimento de tais sintomas nos pais2,3,7. Estudos recentes relatam que teriam relação com diversos fatores biológicos (principalmente uma desregulação hormonal que ocorreria nos homens entre os últimos meses da gravidez da parceira e o primeiro ano do período pós-parto) e ambientais, como complicações da relação conjugal e dificuldade de formar uma ligação afetiva com o filho.

Não é infrequente que o homem demonstre mais dificuldade na formação do vínculo afetivo com o filho, comparado com a mulher, que tipicamente é socializada de forma a aprender a lidar com crianças e, além disso, apresenta taxas elevadas de ocitocina, hormônio reconhecidamente associado com a formação do vínculo mãe-criança. Há, também, a falta de um modelo a seguir, já que os homens acabam por não passar aos filhos conhecimentos sobre o que fazer para ser um bom pai. Esse fato está associado com uma maior ansiedade frente difícil tarefa de cuidar de um recém-nascido. No âmbito conjugal, há potenciais complicações, como o ciúme pela dominância do papel materno na nova relação familiar e a relativa exclusão do homem da dupla mãe-filho. É também frequente que haja uma diminuição temporária do interesse sexual da parceira. O estresse da paternidade pode ser ainda complicado devido s diferenças nas tarefas destinadas a cada gênero, com a ênfase no papel do homem como provedor. No período pós-parto, aumentam as preocupações financeiras e, consequentemente, a dedicação do homem ao trabalho, o que pode diminuir ainda mais o tempo destinado ao relacionamento pai-filho. O medo de falhar nas tarefas de provedor, apoiador emocional e parceiro romântico está relacionado ao estresse psicológico paterno, levando, em muitos casos, ao desenvolvimento de sintomas depressivos. Também pode ocorrer que a criança acabe contribuindo com o problema: a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a criança (comparado com a mãe) podem tornar suas interações menos interessantes para o filho, tendendo esse a dar-lhe um menor número de retribuições (como sorrisos e vocalizações), aumentando o estresse paterno ao longo do primeiro ano pós-parto5. Um ponto importante a ser destacado é a forte associação entre a DPP paterna e a materna2,3,5. Nosso grupo identificou essa correlação em 70% dos casos de transtorno emocional materno4. Tanto a prevalência, quanto a severidade da DPP paterna aumentam de acordo com a severidade da depressão de sua parceira3. Ainda é obscura, porém, qual a relação entre a DPP na mulher e no homem6,7, ainda que, estudando a mãe, nosso grupo tenha demonstrado associação significativa especificamente com a qualidade da relação conjugal7. A sinergia entre os sintomas depressivos da mãe e do pai pode se dar pelo estado psicológico de um dos parceiros, que acaba influenciando o do outro, seja diretamente por questões afetivas, ou indiretamente pelas consequências das rotinas diárias serem alteradas pelos problemas vivenciados. Como o homem geralmente conta prioritariamente com o apoio emocional da companheira, quando sente uma diminuição de sua atenção, seja pela alteração de seu humor, excesso de tarefas, falta de repouso e aumento dos conflitos do casal, passa a desenvolver uma atitude mais introspectiva, afasta-se da companheira e tem dificuldades no desempenho do papel paterno e em outras áreas da vida, podendo desenvolver sintomas de depressão5,7. A alta prevalência de DPP paterna tem grandes implicações também sobre o bem-estar da criança. Mães e pais com DPP demonstram menos evidências de apego emocional a seus bebês e capacidade de estimular o seu desenvolvimento. Se ambos os pais experimentarem sintomas depressivos durante o período pós-parto, a interação entre a depressão da mãe e do pai pode acarretar um risco ainda maior para o desenvolvimento da criança2. Além disso, a DPP, quando persistente, pode favorecer a ocorrência de situações de negligência e abuso infantil6. Tradicionalmente, na cultura brasileira, espera-se do pai apenas que seja provedor e ofereça apoio a sua parceira nos cuidados com o bebê, os quais seriam da esfera de responsabilidades da mãe (junto com as tarefas domésticas). Mudanças socioculturais, como a entrada da mulher no mercado de trabalho e o desenvolvimento de papéis mais equitativos para mulheres e homens na família, vêm modificando essa situação. Estudo de nosso grupo evidenciou que 33% dos pais que coabitavam com a mãe do bebê de 4 meses não participavam ativamente dos cuidados desse5. O estudo dos fatores demográficos e relacionais demonstrou associação significativa entre o envolvimento do pai nos cuidados do lactente apenas com a má qualidade da relação conjugal e com o fato da esposa não trabalhar fora do lar, o que amplia o que foi discutido. Não houve evidência de menor envolvimento se o pai estava deprimido, o que, a nosso ver, demonstra a importância do papel de pai (preservando-o mesmo na vigência de problemas emocionais) no ciclo de vida do homem e a necessidade de mais pesquisa sobre o assunto7. Para facilitar o processo de transição do homem de filho para pai, diferentes tipos de apoio fazem-se necessários. Já foi dito que o apoio mais efetivo para os homens geralmente vem de suas parceiras, mas programas educacionais na comunidade também podem ser importante forma de suporte, já que é comum a falta de uma rede social compreensiva e apoiadora para os novos pais. Pouco se estudou também o papel da família extensa nesse processo, levando em conta que há uma necessidade de mudança social para apoiar o ‘novo’ pai. Por exemplo, programas de apoio na área da saúde para evitar o desenvolvimento da DPP são tradicionalmente voltados apenas para as mães. Quando são voltados para o casal, os homens tendem a não participar (assim como ocorre na maioria das ações de saúde). Isso se deve, em grande parte, falta de informação dos homens sobre a necessidade desse apoio. Há relatos na literatura de programas em que, quando o pai era informado da importância e convidado a participar diretamente, e não por meio da esposa, o índice de aceitação era maior7. Até o momento, a DPP paterna só foi estudada por um pequeno número de pesquisadores7-9 e, predominantemente, em países desenvolvidos. Está na hora de termos mais estudos brasileiros que ajudarão a responder muitas questões, inclusive achados contraditórios sobre o impacto do transtorno mental na família. Sabe-se que a relação mãe-filho saudável está associada com o bom desenvolvimento físico e mental da criança, mas pouco se sabe sobre essa associação com a relação pai-filho. Em nossa coorte, identificamos que já aos 4 meses havia problemas persistentes na relação de 9,5% das duplas mãe-filho e de 12% das duplas pai-filho. Para a mãe, esse achado estava significativamente relacionado com transtorno mental do pai, rede social pobre e também interrupção precoce do aleitamento (mas não com presença de transtorno mental materno). Para o pai, estava associado com relação conjugal problemática e baixo peso do bebê ao nascer, mas não com presença de transtorno mental nele10. Todos esses fatores associados são passíveis de intervenção de profissionais da saúde com potencial de boa resolutividade, em especial o tratamento dos transtornos mentais e das relações conjugais problemáticas11,12. É sabido que há consequências em longo prazo para o filho quando a relação pai-filho é conflituosa ou distante. Entre outras, pode-se citar a maior prevalência de transtornos de comportamento e maior possibilidade de envolvimento com drogas na adolescência13. Portanto, uma mudança na forma com que os serviços de saúde prestam assistência ao início da formação da família e da construção do papel de pai poderá ter grande impacto para melhorar a vida dos indivíduos, famílias e comunidades. Esperamos ter demonstrado que é necessária uma maior conscientização dos profissionais da área da saúde sobre os transtornos mentais do pai no pós-parto, devido a sua relevante prevalência, assim como sua associação com outros problemas. Deve-se buscar, desde o período pré-natal, uma integração entre profissionais de diversas especialidades (gineco-obstetras, pediatras, médicos de família e comunidade, clínicos, psiquiatras, psicólogos) para o acompanhamento não só da dupla mãe-criança, mas sim do casal e seu filho. Recomendamos, portanto, que o pai seja incluído no maior número de consultas peri-natais possível.” Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre (RS), Brasil

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