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A Dor da Insegurança(Entrevista)

Por: Luzia Winandy Entrevista para o Portal www.AlémdaBeleza.com

Quais são as características de uma pessoa insegura? Uma baixa auto-estima, uma grande necessidade de serem aceitos e reconhecidos pelas pessoas e um enorme medo de errar estão na base da vida de uma pessoa insegura. Por isso, tendem a ser muito perfeccionistas em suas atividades; com um excesso de preocupação de uma avaliação negativa dos outros; dificuldades de assumir responsabilidades pelos erros cometidos; dificuldades de expressar suas opiniões por serem muito criticas e ao mesmo tempo tem medo das criticas dos outros; apresentam uma rigidez interna, sendo pouco flexíveis e tolerantes aos erros também dos outros.

* Até que ponto a insegurança é considerada ‘normal’? Ela pode ser considerada uma doença? Por quê? Todos nós vivemos momentos de insegurança. Haja visto que qualquer decisão que devemos tomar ou uma escolha a fazer, por menor que seja, provoca uma ansiedade de querer fazer a escolha certa, de não ter arrependimento pela escolha que fez e uma vontade de ter certeza que escolheu “a melhor”. No entanto, sabemos que esta certeza nunca terá. Só nos resta fazer com que aquilo que escolhemos seja bom o suficiente. Ou se não der certo, viver a frustração inerente por não ter dado certo. Ou ainda tentarmos reparar de alguma forma e continuarmos “tocando a vida”. É justamente nesse ponto que a pessoa com um grau maior de insegurança “peca”. Ela tem uma ilusão de que poderia ter o controle e quer se garantir de não correr nenhum risco de errar no que escolheu. Não quer sentir a culpa, nem a frustração de que se escolheu algo e que não foi o mais acertado ou o mais adequado, e ela vai ter de admitir seu erro. O medo de errar está permeando a vida da pessoa insegura. Nesse sentido pode ser considerada uma “doença” por gerar um grande grau de sofrimento que a pessoa fica acometida: tanto na intensidade como na freqüência em que ocorre. Pode ser medida pelo prejuízo que acarreta na vida da pessoa. Se a insegurança não interferir no modo de vida dela, não trazendo prejuízos para sua vida pessoal, profissional e social, ela acaba sendo bem tolerada e convive bem com isto, esta é uma insegurança normal. É o excesso que torna a insegurança num nível patológico, acarretando prejuízos tais na vida da pessoa que ela não consegue ter uma qualidade de vida de acordo.

* É mais comum as mulheres sofrerem desse mal? Por quê? E quando a insegurança faz parte do dia a dia do homem, eles agem diferentes das mulheres? Tanto homens quanto mulheres sofrem de insegurança. A diferença está mais na forma de lidar com ela. A mulher até admite com mais facilidade e procura ajuda seja na conversa com amigos, familiares ou mesmo buscando um profissional, para expor suas fraquezas, numa tentativa de se sentir melhor. Às vezes, a fala excessiva pode estar a serviço de uma insegurança. Ao passo que o homem, pela própria cultura machista em que vivemos, ele se cobra mais, envergonhando-se de deixar transparecer suas dificuldades supondo muitas vezes que o errar vai diminuir seu potencial masculino. Com isto, a reação dele, muitas vezes, pode ser se fazer de arrogante ou ainda, formar uma obsessão por um desenvolvimento intelectual intenso como forma de acobertar uma insegurança, com uma fantasia de que se souber muito, não vai cometer erros e vai acertar sempre.

* Existe tratamento? Se sim, como ele é feito? O tratamento de psicoterapia é muito indicado. O objetivo de uma intervenção em psicoterapia é trabalhar inicialmente as questões emocionais subjacentes à dificuldade que a pessoa apresenta e ajudá-la a desenvolver maior confiança em si própria. O inseguro excessivo, assim se mostra, por não confiar em seus próprios recursos internos, sentindo-se empobrecido diante do mundo, muitas vezes com uma percepção de si bastante inadequada. Concomitantemente, utiliza-se na psicoterapia estratégias que levam a pessoa aprender a gerenciar seus medos de errar e poder ousar mais nas situações, ponderando com ele os reais riscos. O objetivo final de uma psicoterapia é ajudar a pessoa a desenvolver sua autonomia para que consiga ser a autora de sua própria história.

* Situações de exposição são oportunas para crises de insegurança? Por quê? O enfrentamento de situações difíceis e que nos dá insegurança é sempre benéfico, se a pessoa puder aprender com a experiência. Se pensarmos que nossa aprendizagem se dá mais pelos erros que cometemos do que pelos acertos; e que nos fortalecemos e amadurecemos pelas nossas perdas e frustrações vividas, então podemos afirmar que se não nos expormos ficaremos sempre muito mais limitados no nosso desenvolvimento. É a partir de nos permitirmos errar que vamos nos desenvolver e nos tornarmos mais criativos.

* Como as pessoas que convivem com alguém muito inseguro devem agir? Já atendi pessoas inseguras que não conseguem sequer escolher um prato num cardápio de restaurante, tamanha a dúvida que sente em ter de escolher apenas “um”. Podemos pensar, com isso, que o inseguro não quer perder nada, não quer viver a frustração de que para ele ter “um” ele vai ter de renunciar a “outras tantas”. Ele na verdade fica em dúvida porque ele não quer viver esse sentimento de que não pode ter todas as coisas, ou nesse caso, não pode ter todos os pratos do cardápio. Ou ainda, sentir a frustração de ter escolhido um prato que poderá não estar tão bom. Este é apenas um exemplo de como as inseguranças podem se dar até pelas pequenas coisas e aparentemente nem tão importantes. Os familiares e amigos próximos não devem nunca fazer pela pessoa ou escolher por ela. Devem incentivar que ela tome sua própria iniciativa, independente de ser a melhor ou não. Ser tolerantes com os erros e evitar críticas destrutivas são fundamentais. Incentivar ousar mais e arriscar mais, mesmo que seja nas pequenas decisões ou escolhas como na situação acima apresentada. E também elogiar mais vezes atitudes por ele tomadas.

* O que fazer para se tornar uma pessoa mais segura? Ousar mais, não ter medo de errar, e assumir as responsabilidades e culpa pelos erros cometidos é o primeiro passo para atingir uma segurança em si própria e melhorar a auto-estima. Para isto, precisamos ousar sermos nós mesmos. Na maioria das vezes, queremos aparecer no mundo de uma forma idealizada por nós. Formamos um ideal de pessoa e passamos parte de nossa vida tentando atingir esse ideal. Tentando nos mostrar de maneira diferente do que somos. Com isso, vamos nos distanciando daquilo que a gente é de verdade, ou seja, não querendo ver nossos defeitos, fragilidades, medos e fraquezas. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, somente podendo entrar em contato com essas nossas limitações é que poderemos mudar e nos tornar melhores. Poder ter consciência das nossas emoções, limitações e sentimentos quaisquer que sejam eles e ousar expressá-los livremente, é o segundo passo para desenvolver uma maior segurança em si. Precisamos nos tornar analistas de nossas emoções e não só senti-la desenfreadamente. Com isto veremos a nós mesmos e o mundo com muito mais tranqüilidade e segurança.

Luzia Winandy

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