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Por que sentimos inveja

Por: Luzia Winandy

Matéria para o portal www.luzia.psc.br

Quem de nós já não sentiu inveja? E quem de nós já admitiu ter inveja? Eis aí uma grande dificuldade. A inveja é negada pela maioria das pessoas, porque ter inveja foi nos ensinado desde muito cedo que é um sentimento ruim, danoso e que faz mal ao invejoso. Crescemos acreditando que inveja é um dos sete grandes pecados capitais. Porque fica sempre a marca que ter inveja é desejar mal ao outro, torcer para que algo desse errado para o outro. Ficamos muito assustados com esses sentimentos e procuramos logo eliminá-los de nosso mundo fantasioso. No entanto, a inveja é considerada uma expressão de impulsos que opera desde o inicio da vida e tem base constitucional (Klein,1929).

Por que não podemos admitir nossas invejas? Apesar da inveja ser uma emoção tão comum, ela é muito perturbadora e dolorosa; a maioria das pessoas fará qualquer coisa para não ter consciência dela. No entanto, mais danoso do que ter inveja é não entrar em contato com seu próprio sentimento invejoso. Temos tanto medo de sentir inveja que a deixamos escondida de nós mesmos, nos defendemos, mas o sentimento continua ali nos perturbando a cada vez que nos sentimos ameaçados, impedindo que fique de bem consigo próprio. Mascaramos o sentimento invejoso e muitas vezes fazemos uma defesa reativa para não nos depararmos com ela e assim ficamos ora elogiando em excesso o outro, ora submissos ao invejado, ora rivalizando com ele, ora denegrindo as boas qualidades do outro (o que provocará menos admiração e dependência), ora projetando a inveja no outro (de forma que a pessoa se vê como uma pessoa não invejosa e julgando-se cercada por pessoas invejosas e destrutivas) . Estas são apenas algumas manifestações inconscientes da inveja.

No entanto, a inveja faz parte de nossa evolução como seres humanos e tem suas raízes na infância. Invejamos desde muito pequenos a mãe com seu seio nutridor; Invejamos os pais por formarem um casal e o pequenino ser se sentindo excluído da relação deles, luta ostensivamente para não entrar em contato com esse sentimento. Sentimos inveja do irmãozinho que fica atraindo mais atenção de nossos pais e imaginamos que nenhuma atenção vai sobrar para a gente; não queremos dividir o amor de nossos pais com mais ninguém, com medo de perder definitivamente o amor deles. Queremos ser tão grandes como nossos pais. A medida que vamos nos desenvolvendo , o amor, a culpa e a gratidão pelos pais vai se consolidando e pouco a pouco todo esse sentimento invejoso vai se resolvendo e transformando em luta pela vida, luta pelas conquistas e passamos a explorar nossos potenciais, descobrindo nossos próprios talentos e criações e o sentimento invejoso vai se dissipando paralelamente.

Muitas vezes, para algumas pessoas, essa inveja infantil ainda prevalece e aparece de forma deformada e transferida para outras pessoas adultas de seu relacionamento e acaba podando esse ser criativo e talentoso que temos dentro da gente. Outras vezes fica tão aprisionado e paralisado no que o outro tem ou construiu que acaba se impossibilitando de olhar bem fundo para si e se questionar por que quer conquistar a mesma coisa que o outro? O que ele quer para si mesmo? Quais são mesmo seus reais desejos de sucesso? Como alcançar isto? Poderemos pensar que para tais pessoas essa inveja ainda está nas raízes de sua história e que apenas transferiu para os adultos que hoje os rodeia. Como se esses adultos estivessem vestidos de mamãe, papai e irmãos para essa pessoa portadora da inveja, sem que ela o perceba. Sendo assim o que se precisa resolver são esses sentimentos invejosos infantis que assim ficaram fixados, impedindo de emergir toda a criatividade e talentos próprios.

Importante lembrar que cada um de nós vem ao mundo com um potencial, uns para uma coisa e outros para outras coisas. Quando nascemos temos um potencial quase ilimitado de talentos. Precisamos descobrir o que há dentro de cada um de nós. Para tanto, é muito importante entrar mais em contato consigo próprio no seu mundo interior, questionando-se sobre seus reais sentimentos, tornando-se analistas das emoções, olhando para os próprios defeitos, medos, franquezas e fragilidades. Quando identificados e aceitos os sentimentos, as pessoas tem mais contato com o que sentem e usam menos defesas na relação com os outros, podendo emergir mais a criatividade .

Luzia Winandy

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