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O divórcio e suas implicações (entrevista)

Uma situação de divórcio gera sempre um estado de crise familiar. Não importa qual o desfecho que levou tal decisão mas o sentimento de estar só e abandonado vai sempre prevalecer nos membros da família, num primeiro momento. Como ocorre com toda perda e separação é fundamental o luto que se forma diante desta perda. Todos estão perdendo, desde a perda do espaço físico, seja com brigas ou sem brigas, até a perda da figura mãe e pai que não mais serão vistos como uma dupla, mas como seres individuais. Com tudo isto, eles podem ter reações diversas:

• Para uns, pode vir como uma negação total (fazer de conta que não estão se incomodando, que os pais são indiferentes para eles. Esta é uma das piores reações, porque muitos pais vendo os filhos reagirem desta maneira,ficam acreditando que não houve nenhum problema a separação, que eles aceitaram bem o novo contexto familiar. Isto acaba impedindo um diálogo familiar sobre os sentimentos que cada um está nutrindo de verdade.

• Para outros, a reação pode ser de rebeldia. Aparentemente, esta é a reação que mais incomoda e preocupa aos pais; no entanto é uma reação normal, o filho ficar rebelde diante de uma situação em que o equilíbrio familiar perdeu o lugar. Esta é a forma que o filho tem para dizer aos pais o quanto infeliz e inseguro ele está diante desta nova situação. O filho homem muitas vezes fica com uma fantasia que agora vai ter de ser o “pai” da família, quando está com a mãe e, se for mulher, fica com uma fantasia de que agora terá de ser a “mãe” da família se for morar com o pai. Esta situação mal resolvida, pode gerar uma tremenda confusão no mundo emocional da criança ou do adolescente. Eles formam fantasias de serem os responsáveis pelos seus genitores e responsáveis pelos desentendimentos entre eles, culminando na separação.

• Outras reações podem surgir diante desta crise e vai depender também da idade da criança: com regressões fisiológicas, como voltar a urinar na cama quando menores; desestabilizar o humor, ora podendo aparecer sentimentos de tristeza e solidão ora irritabilidade e ansiedade excessivas; diminuição do rendimento escolar; afastamento social, tornando-se mais isoladas.

Importante lembrar que, de qualquer maneira, a crise familiar decorrente do divórcio, sempre vai existir e precisa aparecer como tal. No entanto, os pais não precisam temer a crise, faz parte deste processo. Eles precisam, sim, se empenharem em ajudar a resolver a crise que é à base de muito diálogo. Trazer este assunto em discussão familiar, onde todos podem falar sobre seus medos, tristezas e fantasias voltadas sobre a situação que se encontram no momento atual. Os pais, por outro lado, precisam garantir para os filhos que o amor e o cuidado de pais para com eles prevalecem da mesma forma, porém em espaços físicos diferentes. Normalmente precisa de um tempo para ser resolvido e buscar soluções mais adequadas para a nova situação. Assim sendo, este diálogo também precisa perdurar por um tempo. Não é uma única conversa que vai ser a solução. Existe uma tendência dos filhos se julgarem os culpados pela separação, acreditando muitas vezes que o divórcio é fruto por não ter sido um bom filho.

Importante ainda os pais tomarem os cuidados para não entrarem em disputa pelo amor do filho. Se o divórcio foi com muita mágoa e ressentimento do casal, eles precisam resolver isto entre eles, de outra maneira, que não seja inundando os filhos com desvalorizações do ex-parceiro(a).

Se os pais não conseguirem conduzir esta situação sozinhos, é muito importante buscar ajuda profissional, que pode estar mediando todo este processo familiar, numa tentativa de conduzir para uma resolução mais adequada.

É importante salientar que, como toda crise, uma vez encontrada uma solução adequada, e tendo lidado adequadamente com a situação, todos ganham um amadurecimento e podem viver muito felizes com as novas estruturas e núcleos familiares estabelecidos. Para isto os pais precisam continuar funcionando como pais, ou seja, impondo limites, regras, ajudando o filho a ficar no lugar que lhe pertence de verdade: – que é ser filho. E não ficar tentando compensar, com permissividade acentuada, a vida do filho.

Como manter uma relação saudável?

O respeito mútuo, cumplicidade, doação ao outro e o diálogo formam a base fundamental de uma relação bem sucedida. Tem pessoas que pensam que por estarem juntos há tempo, não precisam fazer mais nada para manutenção do amor. No entanto, o amor precisa estar sempre sendo tratado, olhado, como se fosse ainda na fase de conquistas, porque, na verdade, precisamos conquistar nosso parceiro diariamente.

O que fazer quando o divórcio impede uma relação saudável posterior?

Todos envolvidos, pais e filhos precisam entender que tudo tem um tempo de resolução. Não basta apenas anunciar o divórcio e terem umas poucas conversas para se poder considerar tudo resolvido à contento. É muito importante serem tolerantes ao tempo necessário para sentirem a dor da perda; poderem chorar pelo que ficou para trás e que em uma época foi tão cheio de expectativas e sonhos. É importante formar esse luto da perda e assimilar todo o ocorrido para, pouco a pouco, introduzir uma nova pessoa em sua vida. Não é bem indicado entrar numa nova relação logo após a separação.

Que dicas você daria para os filhos que têm os pais se separando?

Primeiro eles precisam entender que estão vivendo uma crise familiar. E que como qualquer crise, precisa de um tempo para solução e adaptação. Num primeiro momento, parece assustador viver esta situação nova, mas à medida que o tempo passa, tudo vai tomando um rumo e novamente o equilibrio se estabelece. Mas é importante eles não ficarem fantasiando a volta dos pais ou tentando reconciliá-los. Os filhos precisam saber que os pais tem vida própria e que da mesma forma que eles, como filhos, tem projetos de vida, os pais também tem seus projetos e que muitas vezes o parceiro que eles escolheram, em épocas passadas, não estão atendendo às expectativas que eles criaram. E que muitas vezes fazemos escolhas erradas acreditando que estamos acertando.

Quando os pais sugerem que os filhos escolham lados, o que fazer? Que dicas você dá? Esta é uma questão muito conflitante. O filho ter de escolher com quem ficar faz muito mal para ele. Ele vai se sentir sempre culpado quando estiver com o pai que não foi o escolhido. Esta decisão não deve ser dos filhos. A mãe ainda é considerada a responsável pelo filho. O ideal seria dividir cuidados, na medida do possivel, de acordo com a disponibilidade dos pais: como levar na escola e buscar, nas atividades, dividir os finais de semana e não manter rigidamente horários para ficar com os filhos.

É mais fácil quando se tem irmãos?

Quando tem irmãos facilita em algumas situações por eles acabarem formando um conluio entre eles. Pode até favorecer, se os irmãos se ajudarem mutuamente, conversando entre si, falando da mesma dor etc, ou seja, eles acabam não se sentindo tão sozinhos, desamparados e responsáveis.

Que dicas você dá para os filhos que tiveram os pais separados, e que têm problemas para manter um convívio saudável?

Os filhos precisam sempre lembrar que são os pais que não se amam mais como marido e mulher e porisso precisam se separar. Mas que o amor que os pais sentem por ele, como filho, permanece igual, nada mudou, só vai mudar a rotina, e que para isto ele precisa de um tempo para se acostumar e se adaptar a um dia a dia diferente. Dá sim, muitas saudades de ter os pais juntos na mesma casa cuidando dele mas que é muito possivel eles o fazerem, da mesma forma, em casas separadas. À medida que o tempo passa, tudo vai se reorganizando novamente e acaba por se acostumar com essa nova reestruturação familiar.

Luzia Winandy. Direitos Reservados.

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