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Claustrofobia (entrevista)

Entrevista para a Revista Viver Brasil

1. Pessoas que sobrevivem a terremotos, desabamentos podem vir a ter claustrofobia?

Podemos dizer que pessoas que experimentam eventos catastróficos, como terremotos e desabamentos e que envolvem um medo de morte ou medo da perda da integridade física e que responderam a esse trauma com medo intenso, impotência, sensação de desamparo ou horror, estão muito sujeitas a desenvolverem transtornos ansiosos diversos e a claustrofobia é um deles. – Claustrofobia é um medo de ficar em lugares fechados, apertados, como elevador, metrô, trem e aviões. É dominado por uma sensação de que vai ficar preso ali e morrer sem ar, sem ser socorrido e ajudado. Para algumas vitimas, decorrido um tempo após esse evento traumático, qualquer vivência que passa a ter num ambiente fechado, sem nenhum perigo real aparente, ela apresenta um medo desproporcional à situação, que foge de seu controle voluntário. Esta vivência atual, sem nenhum perigo, vai remetê-la ao medo original, de morte, experimentado no trauma. O evento é persistentemente revivido com recordações aflitivas, e a pessoa passa a agir ou sentir como se o perigo estivesse ocorrendo novamente. Sem dúvida a reação da pessoa vai depender da interpretação que ela vai dar ao evento vivenciado como traumático e esta interpretação é determinada de acordo com a sua sensibilidade psicológica , pela condição biológica (genética e congênita) e pela sua história de vida na relação com o meio ambiente.

De igual importância é avaliar o quanto a família também se desestabilizou com o evento traumático seja de forma direta ou indiretamente e promover a compreensão da família ä respeito das reações da vítima – problemas com o sono, dores de cabeça, problemas gastrintestinais e até escolares e profissionais.

2. E quem está com a fobia tem mais dificuldades de sobreviver a situações como essa?

Se a pessoa que vivenciar esse evento catastrófico for portadora de algum tipo de fobia, provavelmente vai dificultar a sua busca da sobrevivência, pela ansiedade e estado de pânico que estará acometida, de modo exacerbado. Pessoas menos ansiosas conseguem manter uma linha de pensamento mais otimista e de esperança, conseguindo se conter e buscar formas de sobrevivência no aqui e agora. Estamos acompanhando pelos noticiários, vitimas do terremoto onde alguns sobreviventes conseguiram se manter debaixo dos escombros por vários dias. Este é o perfil de uma pessoa que consegue manter uma postura de controle emocional, não se deixando ser dominado pelo pânico, o que vai lhe permitir buscar pequenas soluções no espaço físico e emocional que se encontra; ou seja, ela consegue manter ao menos um pouco do bom senso apesar do risco iminente da morte. Ao contrário de um fóbico, que vai ser provavelmente dominado por uma ansiedade e desespero tais que o bom senso desaparece; esta busca de soluções no aqui e agora “dão um branco” e a pessoa entra num estado de choque e pânico que mal conseguem controlar a respiração. Essas pessoas morrem muitas vezes pelo desespero.

3. Quais os tratamentos? Nem sempre as manifestações clinicas de uma vivência traumática vem como conseqüência imediata ao evento. Muitas vezes a pessoa se ajusta e o quadro não evolui. Outras vezes o quadro vai evoluindo progressivamente . Por isso é muito importante tanto a vitima como os familiares ficarem atentos em alguns sintomas, que se persistirem por um período de um mês, como a insônia, pesadelos, irritabilidade ou raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância, medos intensos, sobressaltos, ou ainda, se tiver um prejuízo significativo em alguma área importante da vida como no trabalho, vida social ou acadêmica. Neste caso é muito importante procurar ajuda profissional de psicoterapia, como impeditivo para que o quadro não evolua para um transtorno de ansiedade ou mesmo uma depressão mais importante. O objetivo de uma intervenção em psicoterapia é principalmente, criar a percepção de que o mundo é novamente seguro, previsível e sem perigo; desenvolver uma percepção de controle pessoal e estabilidade; aumentar a resistência aos estresses da vida; buscar uma melhora na qualidade de vida; reduzir a ansiedade patológica e aumentar as habilidades de enfrentamento das situações; desenvolver habilidades de relaxamento e controle de respiração; trabalhar com técnicas de interrupção de pensamentos negativistas com reestruturação cognitiva.

4. Há pessoas que não conseguem superar a claustrofobia e convivem com ela?

É muito comum encontrarmos pessoas com fobias diversas. Se as fobias não interferirem no modo de vida de uma pessoa, não acarretando prejuízos para sua vida pessoal, profissional e social, ela acaba sendo bem tolerada. Ou seja, vai depender do grau de sofrimento que a pessoa fica acometida, da intensidade da fobia e da freqüência em que ocorre. Por exemplo, se for medo de elevador e a pessoa simplesmente evitar andar de elevadores, sem nenhum prejuízo na sua vida, ela pode conviver facilmente com esse impedimento. No entanto se o medo for de uma intensidade tal que o medo do elevador for progredindo para outras situações, pode chegar o momento que esta pessoa permanece “refém” de seu medo e não mais sai de casa. Esta pessoa tem grandes chances de desenvolver distúrbios psiquiátricos cada vez mais importantes.

5. Esse sintoma está crescendo ou não? Por quê?

A ansiedade é propulsora de uma fobia. Considerando que o mundo está cada vez mais violento, mais perigoso e as expressivas mudanças da vida moderna, acabaram por levar as pessoas a uma maior exposição a situações de conflito e ansiedade, desestabilizando a vida emocional. Isto conduz a sentimentos de insegurança tais que o viver é sentido sempre como uma ameaça de perder a integridade física e medo de morrer. Do ponto de vista clínico, é bem possível que os transtornos fóbicos predominem na atualidade, levando as pessoas a uma maior vulnerabilidade, desconfiando de tudo e de todos.

Entrevista para a Revista Viver Brasil

Luzia Winandy. Direitos Reservados.

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