Traição no casamento(entrevista)
Por Luzia Winandy
Entrevista para a Rede TV Canal da Gente
Falar em traição implica em falarmos de uma confiança que foi rompida, colocando em jogo valores fundamentais como confiança, respeito e sinceridade. É uma das principais causas do fim do relacionamento.
Vamos aqui discutir algumas questões relacionadas ao amor e que acabam por dificultar os relacionamentos de casais.
O que nós aprendemos é que no amor existem alguns clichês como: … “Viveram felizes para sempre…” “… Vamos envelhecer juntos apaixonados como agora.”… ”Ele nunca vai me decepcionar…” ..Ela sempre será a mulher dos meus sonhos…” “Ele(ela) vai suprir todas as minhas necessidades da vida…” que são expectativas muito intensas que se forma sobre um relacionamento, onde os conflitos parecem não existir; é uma ilusão de um verdadeiro conto de fadas.
Crescemos aprendendo com nossos pais que o amor é incondicional. Nossos pais nos amam aconteça o que acontecer, estarão sempre do nosso lado. Quando formamos um casal, transferimos essa idéia para nosso parceiro e acreditamos que ele também nos amará incondicionalmente. Mas não é bem assim, amor de casal, acaba, se não for cuidado; se não fizer um investimento no relacionamento à base de muito diálogo, cumplicidade e doação ao outro, ele acaba sim; o amor vai murchando, fica minguado, seca e morre.
Tem pessoas que pensam que por estarem juntos há tempo, não precisam fazer mais nada para manutenção desse amor. No entanto, o amor precisa estar sempre sendo tratado, olhado, como se fosse ainda na fase de conquistas, porque, na verdade, precisamos conquistar nosso parceiro diariamente. A traição, muitas vezes, acontece por esta idealização de um relacionamento cheio de expectativas em relação ao outro e quando se depara com a realidade, não agüenta as frustrações, diferenças e conflitos inerentes de uma relação. E acaba por sair em busca de preencher isto, de algo que o parceiro não lhe oferece mais: – satisfação dessa fantasia de uma relação perfeita, permeada de uma falsa ilusão de felicidade.
Hoje está se banalizando muito os relacionamentos e os casais acabam por não ter tempo de superar as fases difíceis da relação e muitas vezes são levados por tentar resolvê-la na busca de outro parceiro.
Porém isto acontece principalmente quando não está existindo uma cumplicidade na relação.
Muitas pessoas acreditam que dialogar é cobrar do outro o que não está bom e se esquece de olhar para a relação como um todo, revendo o jeito de cada um ser. Procurar em si próprio qual a sua parcela de contribuição para que este relacionamento não esteja harmonioso representa um amadurecimento na relação. Não estou aqui querendo dizer que devemos esquecer nossa individualidade e vivermos somente o desejo do parceiro. Não é bem assim, estou sugerindo que o amor seja tratado, mas levando-se sempre em conta as diferenças individuais e conflitos, porém conduzidos para um diálogo e para uma cumplicidade. Os casais não precisam pensar igual ao outro, mas é importante que cada um tenha espaço para dizer e mostrar o seu jeito de ser e pensar.
SE HOUVER TRAIÇÃO, COMO SUPERAR ISTO?
Se houve traição e quem traiu quer genuinamente reparar, consertar, conversar sobre a relação, é muito importante que se possa considerar isto e estabelecer um diálogo sobre as dificuldades que eles vêm enfrentando nessa vida a dois. Não estou com isso sugerindo a banalização da traição, pelo contrário, estou propondo que se possa encarar esta suposta “crise” de casal, como algo que quando bem resolvido pode levar a um maior amadurecimento da vida conjugal.
O que se percebe na clinica é que cada um dá um peso diferente para a resolução da traição. Isto tem a ver com a história de vida dela. Se for uma pessoa mais segura e confiante em si, ela não leva a traição para o seu lado pessoal. Ela vai sofrer, ter dor, mas vai ter um olhar mais para a situação do que levando a culpa para si ou para o outro.
No entanto, quem se desvaloriza, tem baixa auto-estima, quando acontece uma traição, a tendência é trazer a culpa para si própria, julgando-se como má companheira, questionando-se sobre o que deixou a desejar, ou seja, ela não leva a questão da traição para o lado da relação. Na verdade o que precisa ver é o que não anda bem no relacionamento. Nesse caso muitas vezes a pessoa traída até diz que perdoa o parceiro, mas fica guardando um ressentimento e nunca esquece esta situação e acaba revertendo em hostilidade para com o parceiro. Tornando-se muitas vezes agressiva e intolerante.
Outras vezes a pessoa traída se sente tão ressentida e se recusa terminantemente rever a situação mesmo se quem traiu se encontra arrependido, sofrido e com promessas de reconciliação. Sente-se tão dominada pelo ódio e raiva do parceiro que fica cego para quaisquer outras possibilidades. Nestes casos, sugerimos sempre que se deixe passar um tempinho antes que o casal tome qualquer decisão de finalizar o relacionamento. Às vezes este tempo ajuda a pessoa traída se possibilitar a rever novamente essa historia.
Se a pessoa traída tiver vivido uma história de caso de traição em família, com mãe e pai, existe uma tendência também a enfrentar a traição com mais dificuldade e peso. Nessas pessoas fica sempre a crença de que todo mundo quer feri-la. Sente-se perseguida nos relacionamentos amorosos.
É muito importante o casal considerar que as uniões se fortalecem muitas vezes são nas crises. Porque não é fácil uma vida conjugal. É muitas vezes estressante conviver a dois, que vieram de educação diferente, com inúmeras diferenças individuais e que vão tomar varias decisões juntos, formar uma historia juntos.
Se houve traição e se isto desencadeou uma revisão nos seus conceitos de vida, querer rever a história do casal, de dialogar e se proporem a caminharem juntos, isto é um grande amadurecimento e daí poderá perguntar : – por que não perdoar? O perdão faz parte da natureza humana. O perdão vai ajudá-los a vencer esta fase. Agora se perdoar, após passada esta etapa de reconciliação, é melhor deixar esta historia como passado, não ficar remoendo o erro, não guardar ressentimento e jogando na cara do outro este erro; não ficar usando a traição como arma para as discussões posteriores, porque isto pode desgastar mais ainda a relação.
Claro que há um processo para o esquecimento. Precisa de um tempo para novamente adquirir confiança e conduzir a uma relação mais harmoniosa e segura do amor do outro.
Mas se mantiver intensificado o ressentimento e a raiva se mantém mesmo depois de passado esse tempo de readaptação, é indicado um acompanhamento para a pessoa ou mesmo ao casal, porque isto acaba destruindo a relação.
COMO LIDAR COM OS FILHOS NESTA FASE?
É importante salientar que os filhos devem ficar isentos desses desentendimentos.
Os pais não devem fazer dos filhos seus confidentes. Claro que os filhos vão perceber algum clima de insegurança no ar, mas se limitar a dizer para eles que papai e mamãe estão passando por problemas, coisas de adultos, que eles não se preocupem, porque com ele esta tudo bem, que as discussões deles não têm nada a ver com ele. Deixar claro que estão tentando resolver, mas que muitas vezes é assim precisam ter algumas discussões para poderem chegar num acordo.
Deve-se tomar muito cuidado porque existe uma tendência dos filhos, numa determinada idade, sentirem-se culpados pelos desentendimentos dos pais, eles acreditam que é por causa deles que os pais estão brigando. Bookmark and Share